21 de julho de 2011

Entrevista com a Doro no site Whiplash

Doro cedeu uma entrevista exclusiva logo após seu show em São Paulo ao site Whiplash. Segue abaixo a entrevista feita por Fernanda Lira:

Apos vários anos sem aparecer pelo Brasil, um dos grandes icones da voz feminina no metal deu novamente as caras no pais. Logo após seu show, concedeu uma entrevista exclusiva ao Whiplash, onde esbanjou simpatia e solicitude, alem de incrivel humildade - chegou a interromper a entrevista para autografar itens de colecionador de alguns fãs. Durante nosso papo, essa musa do metal comentou o início de sua carreira, sua inspiração para compor dentre outros assuntos. Confira abaixo a curta, porem descontraída entrevista com essa mulher que demonstrou que nao precisa se vangloriar de ser uma das primeiras mulheres no gênero, mas sim, muita paixão pelo que faz.

Você teve duas outras bandas antes do Warlock, numa época onde não havia muitas mulheres na cena, especialmente no Heavy Metal, que estava nascendo. Como você decidiu integrar uma banda do estilo naquele tempo?
Doro Pesch:
Pra falar a verdade, desde que eu tinha três anos de idade, eu já sabia que eu seria uma cantora. Eu entrei em contato com a música muito cedo na minha vida, quando eu ainda era muito, muito jovem. É claro que cresci ouvindo a outros tipos de música, pois quando eu era pequena nem existia o heavy metal ainda, mas havia algumas bandas de rock bem loucas, como Jimi Hendrix, etc. Então, quando eu tinha cerca de quinze anos eu fiquei muito doente, e por muito tempo - cheguei a ficar no hospital por um ano sem saber se eu iria sobreviver ou não, porque eu estava muito mal. Foi então que fiz uma promessa a mim mesma de que se eu conseguisse passar por aquela fase com vida eu faria algo para valorizá-la, algo que eu amasse.

Após algum tempo eu finalmente saí da clínica e duas semanas depois já estava em uma banda de metal. Foi natural para mim decidir fazer música pesada, intensa e agressiva, porque todo aquele tempo de sofrimento foi muito duro para mim. Quando você está tão próximo da morte, a história é outra. Os meus amigos, que eu achava que eram meus maiores companheiros, sequer apareceram por lá, então aquela fase se tornou um pesadelo pra mim. Por isso decidi que quando eu tivesse minha primeira banda, eu cantaria com o meu coração: colocaria pra fora tudo o que estava dentro dele, da forma mais agressiva, rápida e forte que eu pudesse.

A minha primeira banda, Snakebite, era legal, mas acabou não dando muito certo, então formei uma outra, chamada “Beast”, depois outra chamada “Attack”. Nós todos costumávamos ensaiar em um mesmo lugar... Era um complexo, parecido com uma fábrica enorme e as bandas se reuniam lá. É claro que hoje na minha cidade devem ter mais de 40 bandas de metal, mas naquela época eram poucas e acabávamos conhecendo gente nova com os mesmos interesses. Foi então que eu conheci o Rudy (Graf, guitarrista do Warlock) e começamos a conversar e ele acabou me perguntando se eu estava com alguma banda, e nessa época eu estava num outro projeto, chamado Stormwind. Quando comentei isso com Rudy, a cara dele ficou toda triste de repente e eu perguntei o que havia acontecido. Ele então me disse que estava pronto pra me chamar pra participar de algo junto a ele, pois ele gostava de mim como vocalista. Como eu também me sentia bem com ele, acabei decidindo por sair do Stormwind e começar uma nova banda, que seria o Warlock.

Nós tivemos várias mudanças de formação no começo, não tínhamos uma gravadora e nem um contrato, mas pelo menos tínhamos um logo muito legal para a banda (risos) Tudo bem ficar sem uma gravadora, mas o logo tinha que ser legal (risos). Bom, e então começamos a trabalhar nas músicas do nosso primeiro álbum, tratamos de conseguir integrantes que pudessem nos acompanhar nas gravações e em possíveis shows...

E foi assim que tudo começou! Isso foi bem no começo dos anos oitenta e bem no início do heavy metal. Não havia revistas, então você só ouvia falar das bandas. É claro que sabíamos do Judas Priest, do Iron Maiden, do Motorhead, mas para conhecer outras bandas era mais difícil. Era tudo muito novo. Eu lembro que às vezes apareciam uns garotos no nosso ensaio e eles ficavam olhando e perguntavam: “vocês são uma banda de metal?” e quando respondíamos que sim, eles ficavam impressionados (risos). E desde o começo o metal pra mim foi uma forma de liberdade para eu cantar sobre qualquer coisa que quisesse.

Antes dos anos oitenta, já existiam bandas com mulheres no rock n roll, como as garotas do Girlschool, mas você foi uma das precursoras no estilo metal. Como foi o impacto disso no público que te via ao vivo com a banda pela primeira vez e quão diferente esse público era em relação ao de hoje em dia?
Doro Pesch: Eu realmente acredito que a música ultrapassa todas as barreiras: não importa de onde você venha, ou se é homem ou mulher, contanto que seu coração bata pelo metal. Eu devo dizer que eu nunca me preocupei em ser uma menina no meio dos headbangers, mas sim em ser só mais uma headbanger. Nunca usei o fato de eu ser uma garota como marketing, porque para mim tudo sempre foi de coração. E também nunca tive uma preocupação em ser aceita, porque cantar era algo que eu queria naturalmente. Eu queria cantar, eu queria fazer música, e não acho que usar isso de ‘ser uma garota’ para sobreviver como banda era meu foco. Meu foco era sobreviver como banda com as minhas músicas, com os shows, com os discos, o que é sempre difícil. Cada passo que você dá é difícil e ser uma mulher nunca facilitou nada. Eu sempre me senti como um dos caras (risos). Tanto que às vezes ouço isso de ser uma das primeiras mulheres no metal, mas pra mim não faz diferença, porque é algo natural. Se eu tivesse nascido homem, teria feito metal da mesma forma, então... (risos).

Falando agora sobre Warlock e sua carreira solo, que na verdade é uma extensão da sua antiga banda, porque vocês encontraram problemas judiciais para manter o nome da mesma. Quando ouço ambas, sinto diferenças em termos de composição e sonoridade. Como você analisaria essas diferenças? Claro, caso você ache que há alguma diferença! (risos).
Doro:
Eu acho que o espectro ficou maior agora. Na minha carreira solo eu posso experimentar novos elementos, incluir diferentes influências musicais, como em “Love me in Black”...

Nossa, eu quase chorei quando você tocou essa música ao vivo no show! (risos)
Doro:
Ah, que demais! Mas então, músicas como ela, acabaram surgindo naturalmente, e isso acontece quando você já faz algo há tanto tempo, como compor. A diferença é que antes, no Warlock, as músicas eram totalmente metal, rápidas e cheias de riffs. Eu ainda amo esse metal puro e tradicional, mas agora, na carreira solo, abro espaço pra outros tipos de composição.

Quanto às letras, o que eu posso notar é que você parece ter facilidade em compô-las e adapta-las às instrumentais que acompanharão cada uma delas. Por exemplo, em músicas mais rápidas, como Hellbound, a letra acaba sendo mais agressiva, enquanto em sons como Love me in Black, que você acabou de citar, as letras são mais suaves, o que mostra uma grande versatilidade e habilidade em escrever. Quais as inspirações na hora de compor uma letra?
Doro:
Cada música surge de uma maneira diferente, em momentos diferentes. Às vezes eu estou pronta pra dormir, pensando na cama, e do nada surge uma idéia na minha cabeça, e então imediatamente eu já tento adicionar elementos que a caracterizem do mesmo jeito que ela estava na minha cabeça, da mesma forma que eu a imaginei, é uma coisa muito natural. Eu simplesmente não consigo voltar a dormir enquanto não termino o que comecei (risos). É muito legal quando isso acontece e as pessoas conseguem reconhecer esse cuidado e a paixão que temos na hora de compor. Uma das músicas mais intensas que já compus se chama Ich Liebe, em alemão,que em inglês significa “I love”. Eu me lembro que uma vez eu estava em frente ao túmulo do meu pai, quem eu amava muito, e era seu aniversário. Eu e minha mãe sempre fazíamos isso e nos certificávamos de levar pra ele as flores mais bonitas que pudéssemos encontrar, como se fosse uma pequena cerimônia em homenagem a ele. E desta vez, estávamos no meio do momento quando tive a idéia para essa música. Fui obrigada a dizer para minha mãe “termine isso aí sozinha porque eu preciso sentar e escrever! Eu estou com uma idéia maravilhosa na cabeça e preciso terminá-la antes que eu me esqueça!” (risos). Então eu voltei pra casa e escrevi a letra imediatamente e posso te garantir que ela foi escrita debaixo de umas mil lágrimas. Eu não conseguia controlar, eu parecia um daqueles desenhos, com tanta água saindo do meu olho! (risos). Esse tipo de coisa acontece quase como mágica, e geralmente expressam o que você sente lá dentro, no coração, na alma. Eu gosto de mesclar músicas agressivas com as mais sentimentais, afinal é assim que todo mundo se sente.

Você já excursionou e fez várias participações em shows com outros grandes nomes na cena, como Motorhead, Scorpions e muito mais. Qual você considera o mais importante e marcante na sua carreira?
Doro:
Hum... Difícil!

Ok, vamos fazer um top 3 então, para facilitar as coisas!
Doro:
Ah, bem melhor assim! (risos). Para mim, o mais importante de todos foi sem dúvida, Ronnie James Dio. Ele sempre foi uma inspiração pra mim como músico e como pessoa, e ter a chance de trabalhar com ele foi algo único. Já tocamos com ele no passado, mas há dois anos tocamos com o Heaven and Hell, e foi incrível. Lá no início mesmo, quando tocamos com ele, foi maravilhoso, porque éramos uma banda não muito conhecida e do nada estávamos tocando em estádios, para muitas pessoas, como banda de abertura. Outra pessoa importante pra mim foi o Lemmy. Além de ser uma ótima pessoa, nós tocamos juntos na época do Calling The Wild, e assim que meu pai morreu, ele foi uma das pessoas que mais me apoiou e me deu forca para seguir em frente. Ele é realmente um grande amigo. Mas não posso descartar todos os outros, pois todos foram importantes de certa forma, cada um à sua maneira.

Para finalizar, você tinha idéia da quantidade de fãs que você tinha por aqui? Tinha idéia do quê esperar?
Doro:
É claro que temos uma idéia de que as pessoas por aqui são diferentes, mais apaixonados. E chegando aqui, só pude confirmar isso: muita gente no show e agitando muito durante todas as músicas. As pessoas aqui no Brasil realmente sabem o que é o verdadeiro espírito do metal.

Bem, só podemos esperar que você volte logo!
Doro:
Eu sempre tentei e continuarei tentando fazer com que eu venha aqui com mais freqüência, afinal “EU AMO BRASIL!” (a vocalista falou essa ultima frase em português).

Um comentário:

Leticia disse...

Faltou mais perguntas novas aí, mas tá legal. Esse fato sobre o pai dela eu desconhecia.

E eu sempre soube disso: "As pessoas aqui no Brasil realmente sabem o que é o verdadeiro espírito do metal." *___*
Mas tem banda que ainda precisa vir conferir isso! rsrs


Obrigada por compartilhar essa entrevista!
\m/

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